Pesquisas, livros, ensaios, artigos, obras artísticas, relatos populares atestam que o Espírito Santo, de uma ponta a outra, é território afroindígena há alguns séculos. Aquelas mesmas matrizes informacionais também dão conta de que esse território, tanto o físico quanto o simbólico, tanto o material quanto o afetivo, tem sido negado a essa parcela importante da população, que é a base de sustentação da pirâmide social e econômica do estado. 

Toda essa constatação nos apresenta a urgência de pautas públicas que devolvam para a população negra o seu protagonismo. A importância da luta como modo de vida e a construção coletiva como forma de aquilombamento são dispositivos necessários para que o nosso povo esteja cercado de valores e afetos que lhes permitam afirmar suas identidades, sobretudo num país e estado marcado pela negação de suas heranças culturais africanas e indígenas. 

Livremente inspirado no enredo da canção “Zumbi”, de Jorge Ben, na qual o herói de Palmares ascende como Messias do povo preto, o projeto #ZumbiVem, Zumbi Hoje!, através de obras inéditas de Castiel Vitorino, Fredone Fone, Kika Carvalho e Luciano Feijão, procura trazer à baila novos rostos e formas de pensar Zumbi dos Palmares. Mais do que uma questão messiânica: é um devir negro para o Espírito Santo, para o Brasil e o mundo. E ele devém de muitas maneiras: cada corpo negro que se levanta contra a asfixia imposta diariamente pela branquitude; cada mulher preta que resiste ao sufocamento compulsório de ser a base da pirâmide que ergue o país; cada corpo trans preto que resiste aos ditames de gênero imposto pela supremacia branca é um devir, uma atualização do rosto de Zumbi hoje.

Assim, atualizar Zumbi é uma maneira de fazermos Palmares de novo, a partir das lutas e urgências que marcam o cotidiano capixaba e brasileiro. Importa para nós que Zumbi, a partir da composição dxs artistas envolvidxs neste projeto, apareça em 2021 múltiplo, diverso, pois é como enxergamos. E ao colocar-se também como um projeto que chega às escolas públicas em forma de exposição e atividade formativa, a iniciativa mostra o papel fundamental desse alinhamento da proposta artística com a educação, no intuito de expandir as fronteiras do conhecimento dxs alunxs e professorxs, fortalecendo e reafirmando, assim, a importância da Lei 10.639.