Manifesto #ZumbiVem, Zumbi Hoje!

Quilombo é uma história. Essa palavra tem uma história. Também tem uma tipologia de acordo com a região e de acordo com a época, o tempo. Sua relação com o seu território.

É importante ver que, hoje, o quilombo traz pra gente não mais o território geográfico, mas o território a nível duma simbologia. E é isso que Palmares vem revelando nesse momento.

  Beatriz Nascimento

É tempo de ninguém se soltar de ninguém/ mas olhar fundo na palma aberta /a alma de quem lhe oferece o gesto. / O laçar de mãos não pode ser algema / e sim acertada tática, necessário esquema. / É tempo de formar novos quilombos, / em qualquer lugar que estejamos, e que venham os dias futuros (…) / a mística quilombola persiste afirmando: /

“a liberdade é uma luta constante”

Conceição Evaristo

A linha de frente da força de trabalho? O corpo negro, sempre. 

Neste exato momento: quem é que está, ao mesmo tempo, na mira do tiro, do vírus e da fome, sem dó nem piedade? Quem é a maioria que clama, hoje mesmo, pela volta do auxílio emergencial? Não há dúvida sobre a resposta. E é deste lugar que insistimos.

Nosso peito é o mais alvejado e ninguém se importa.
No país racista em que somos forçados a habitar, nossxs filhxs não têm nome.
Para nós não há delação premiada, nem balança equilibrada da justiça: já nascemos queimadxs!

E é deste lugar que insistimos. Com o peito pesando uma tonelada, existimos, insistimos. E resistimos. Levamos na pele, no sorriso, no punho cerrado, a vida que se contrapõe. Que vejam em nós estampadas a nossa crença, a nossa luta, a nossa resistência. Não nos calaremos!

Porque não se trata de apenas afirmar a dignidade (negada) na construção do que se entende por país. Não. É mais. É, sempre, mais que isso. O que se comunica aqui é outra coisa: somos o ritmo, escultura e escritura da própria noção de trabalho, que neste lado do Atlântico carrega todo um estilo que aplicamos ao vazio do mundo.

O que propomos é bem mais do que a ascensão de um novo Messias: é um devir negro para o mundo. Cada corpo negro que se levanta contra o sufocamento diário imposto pela branquitude; cada mulher preta no front; cada corpo trans preto que resiste aos ditames da supremacia branca é um levante, é Zumbi dos Palmares hoje! 

E se ele nos impõem a força do trabalho, se tentam fazer de nós um corpo subalternizado, nosso contraponto é o trabalho… enquanto mandinga, ritmo que se faz desde casa, que se faz no terreiro, na encruzilhada, através do corpo que se ocupa nos pontos de ônibus, nas calçadas, transportes coletivos, bancos de praça, botecos de esquina, nos intervalos de poucas horas de descanso, de almoço e janta. Um corpo sobretudo que martela. E transforma. A si e ao mundo.

Aquilombe-se conosco!

Coletivo Zumbi Vem